- a falta de saneamento básico e os hábitos de higiene ignorados ou evitados;
- a existência de ambientes alagados;
- a conservação precária dos alimentos, provocando seu estrago;
- a água estava frequentemente contaminada.
Nesses “fragmentos de vida”, queremos apresentar algumas doenças retiradas dos óbitos, trazendo aos leitores algumas reflexões do que era mortal.
Para ilustrar o entendimento que se tinha de algumas das patologias que atingiram nossa amostra, inserimos ao longo da apresentação recortes do Formulário e Guia Médico de Pedro Luiz Napoleão Chernoviz em sua 19ª edição (1924).[1]Uma questão a ser destacada nas “causa mortis” é a declaração do sintoma de alguma patologia, o que sempre nos leva a pensar no fator humano: quem, na realidade, foi o responsável em atribuir a causa do óbito? Teria sido o próprio sacerdote, que registra o termo? Ou teria sido um médico ou alguém que tivesse algum tipo de formação para identificar “a causa”? Essas dúvidas são muito difíceis de serem sanadas, uma vez que o registro religioso católico não tem o declarante.
De qualquer modo, trabalhemos com os dados.
Na sequência, agrupamos as doenças identificadas como causadoras das mortes de forma bastante genérica e sem a excelência médica. Nossa intenção é apenas que o leitor tenha uma breve noção das possíveis potencialidades dos registros, assim como informar um assunto que é de extrema relevância nas pesquisas de nossas famílias.
A) DOENÇAS RELACIONADAS AO SISTEMA RESPIRATÓRIO
- Pneumonia (bronco-pneumonia, pneumonia pulmonar)
- Tuberculose (tubérculos pulmonares, tísica, tísica pulmonar)
- Bronquite
- Enterocolite
- Gastrohepatite
- Desinteria (diarréia)
- Eclampsia dos infantes
- Mal de Umbigo (gangrena do umbigo)
- Dentição
- Trabalho de parto
- Varíola
- Meningite
- Tétano
· Abscesso
· Hemorragia
· Ferimento
B) OUTRAS
- Febre biliosa – febre tifóide.
- Reumatismo – doença caracterizada pela dor, inchação e, às vezes, vermelhidão de uma ou mais juntas. Febre intensa.
- Apoplexia - paralisia súbita do sentimento e do movimento. Causa: derramamento de sangue nas membranas cerebrais. Espontânea. Completa, ou não, extensa, ou não, durável, ou não.
- Marasmo
Apesar de as causas dos falecimentos não apresentarem muitas diferenças em relação a outras cidades gaúchas na mesma época, podemos pensar que são indicativos de preocupação com a saúde pública e, por consequência, dos fins curativos.
Como exemplo disso, citamos Sérgio da Costa Franco e Ivo Stigger[2], em uma passagem sobre a epidemia de cólera-morbus. Referem os historiadores que, em meados de 1855 e 1856, essa epidemia devastou a população local como jamais ocorrido anteriormente.
Tais palavras deixam claro que as doenças na época do Império passavam cidades, estados e fronteiras, tornando-se cíclicas e alvo de estudos da ciência médica, o que sem dúvidas estimulou o avanço na área, a criação de hospitais e o provimento de médicos aos mais necessitados."A epidemia percorria o mundo desde o início de 1855, tendo-se declarado em algumas províncias do norte do país já em setembro. No início de novembro, depois de manifestar-se em cidades do sul da Província (RIo Grande, Pelotas e Jaguarão), atingiu a capital de forma drástica. O número total de mortos, reconhecido pelo relatório do Barão de Muritiba, Presidente da Província, teria alcançado 1405 pessoas entre os meses de novembro de 1855 e fevereiro de 1856."
[1] Outra obra de grande importância foi o Diccionario de Medicina popular editado pela primeira vez em 1842, em dois volumes, e que teve seis edições entre 1842 e 1890. Reúne indicações elementares sobre doenças e práticas curativas comuns na época em questão. De origem polonesa e formado pela Universidade de Monpellier, o autor de obra chegou ao Rio de Janeiro em 1840 como médico da Missão Francesa, onde permaneceu durante 15 anos. (http://www.ieb.usp.br/online/index.asp) Para quem tiver interesse sobre o tema, consulte os textos de: Maria Regina Cotrim Guimarães <http://www.scielo.br/pdf/hcsm/v12n2/16.pdf> e Viviane Santos <http://www.hebron.com.br/Revista/n33/materia1.htm>.
[2] FRANCO, Sérgio da Costa. Santa Casa 200 Anos: caridade e ciência. Porto Alegre: ISCMPA, 2003, p. 61.
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