quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Os Jornais: há 100 anos ...

"Os Mathusalens de Porto Alegre
Macróbios que atingem a um centenário de vida"

Hoje veiculamos a reportagem publicada no Jornal A Federação, de 29 de agosto de 1917 (do Arquivo Histórico Moysés Vellinho), sobre os "Mathusalens de Porto Alegre".

A Federação, em seu noticiário da edição de sábado, registrou o falecimento, com a avançada idade de 110 anos, a 17 do corrente (17 de agosto de 1917), na vizinha povoação de Pedras Brancas, de D. Anna Lucinda de Castro, mais conhecida pelo nome de Anninha Maciel.
A extinta era a pessoa mais idosa de Pedras Brancas.
Na mesma data sucumbiu, naquele distrito desta Capital, contando 84 anos de idade, o Sargento veterano do Paraguai, Manuel José Pereira.
Tem se convencionado chamar o terceiro período da vida ou a Grand Age, como dizem os franceses, o tempo de existência humana que começa a decorrer de 90 anos em diante e abrange a todos os indivíduos que se aproximam de um centenário ou o ultrapassam.
É na grande idade que se observa amiudadas vezes a verdadeira “morte natural pela velhice” de que se fala tanto, mas que tão raramente se observa. É como a morte doce de um passarinho, da qual fala Boy-Teissier escrevendo: “a morte natural por velhice é doce, calma e serena”. É uma espécie de esgotamento até o último fio. A vida escoa-se até a ponta do fio sem que a tesoura de Parcas o corte. Extingue-se no derradeiro bruxuleio o coeficiente de resistência vital, consumindo-se completamente o morrão onde chameja a alma humana.
Em Porto Alegre também, como a atestar as excelências do clima e do tipo Rio-grandense, conforme notas e informes do último recenseamento feito pela municipalidade no ano passado, não são raros os casos de vidas humanas longevas e extremas.
Vamos aproveitar essas notas nesta secção e reproduzir a fotogravura de diversos velhos, alguns ainda vivos, outros recentemente falecidos, que já completaram entre nós, um centenário.
Entre esses macróbios damos hoje, em primeiro lugar, por ser o mais popular e conhecido deles, o retrato de Christóvão Pasqual Rato, que a pouco tempo deixou de existir nesta Capital.
Christóvão Pasqual Rato
Pasqual Rato não era Rio-grandense. Era filho da Itália, mas morava no Brasil há 72 anos. Foi negociante de molhados à Rua dos Andradas onde está hoje instalado o “Café América”. Morreu com quase 103 anos, pois há 12 de abril de 1916 completava justamente esta idade.
Era um cidadão honesto, trabalhador, ativo e, conforme estampa o livro sobre o último recenseamento da população deste município, feito a 1º de julho do ano passado (1916): “não há quem não o conhecesse em Porto Alegre onde era geralmente estimado e onde passou a maior parte de sua vida. Até os 102 anos andava forte e era visto todos os dias nas imediações do Gazometro dirigindo o serviço de carroças de que era proprietário. Apesar da sua avançada idade mostrava interesse pelos acontecimentos da atual guerra europeia, fazendo ler os telegramas diários e emitindo a sua opinião sobre o assunto.”
O Sr. Olympio de Azevedo Lima, que foi quem, como funcionário municipal, procedeu por ordem de nosso ilustre amigo Dr. Montaury Leitão, Intendente Municipal, ao aludido recenseamento, escreve, naquele trabalho, quanto aos macróbios de um centenário existentes nesta Capital: “procurei investigar o mais possível por me faltarem documentos justificativos que atestassem serem verdadeiras as idades de 33 pessoas que se declararam maiores de cem anos. Pelas informações colhidas julgo que de fato essas 33 pessoas tiveram a felicidade de alcançar mais de um centenário.”
Não é só em Porto Alegre que se luta com essa dificuldade para se conhecer a verdade do que alegam os pretendidos centenários. Em toda parte isso se dá.
São as fotogravuras desses seres humanos tão longevos, desses Mathusalens que sem viverem a vida sadia e simples dos campos, antes participando conosco da atividade urbana de Porto Alegre, da sofreguidão na luta pela existência num dos centros mais populosos do Estado, que passaremos aos olhas do público como uma galeria invejável de autênticos centenários.

2 comentários:

  1. cadê a lista dos 33 macróbios mencionada no artigo???

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  2. Vamos colocar mais uns, mas o jornal não publica os 33... na verdade, nem todos os exemplares de O Independente" estão disponíveis para consulta e eles foram colocando aos poucos.

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