segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Documentos Interessantes (Relação de estrangeiros em P. Alegre - 1833)

DOCUMENTOS INTERESSANTES

Relação de estrangeiros residentes em Porto Alegre
Freguesia das Dores, 1833

Dando seguimento à publicação de documentos interessantes, a Oficina das Origens divulga hoje a “Rellação dos Estrangeiros e estrangeiros libertos rezidentes no Districto das Dores desta Cidade” de Porto Alegre.
A nominata data de 11 de novembro de 1833 e encontra-se no Arquivo Histórico do Estado do Rio Grande do Sul (AHRS), Fundo Polícia, maço 59, dando uma ideia dos estrangeiros então ali residentes.
A área em estudo – o Districto das Dores – estava atrelada à Igreja de Nossa Senhora das Dores, na parte central de Porto Alegre, por força do decreto regencial de 24/10/1832, que “subdividiu a paróquia de N. Sra. da Madre de Deus de Porto Alegre em três freguesias, criou a freguesia de Nossa Senhora das Dores”, conforme bem lembra o historiador Sérgio da Costa Franco (Porto Alegre: Guia Histórico. Porto Alegre: UFRGS, 1998, 3. ed., p. 137).
Esse distrito compreendia as Ruas do Riacho (atual Rua Washington Luís), Rua dos Quartéis, Rua Formosa (hoje, Rua Duque de Caxias), Rua do Arroio (Rua Bento Martins), Rua da Ponte (Rua Riachuelo) e Rua da Praia (Rua dos Andradas).
Planta da Cidade de Porto Alegre, por L. P. Dias (1839).
Estão demarcadas as três freguesias mais antigas da cidade, situadas no centro:
Dores, Madre de Deus e Rosário.
Da lista de moradores verificam-se as várias etnias e os “empregos” (profissões) desempenhados por este contingente humano que muito auxiliou, em vários aspectos, para a formação e desenvolvimento da capital gaúcha.
Passemos a ela: 
Rua do Riacho
·          Roberto Transponski, russo, agente consular da Rússia;
·          João Antônio Bento, estrangeiro, negociante;
Rua Formosa
·          Manuel Francisco dos Santos, português, carpinteiro;
·          Domingos José Duarte, português, caixeiro;
·          Bernardo José Brandão, português, sem atividade;
·          Antônio Joaquim Guimarães, português, carpinteiro;
·          José Pereira Bastos, português, confeiteiro;
 Rua do Arroio
·          Custódio José Rodrigues, português, caixeiro;
Beco de Pedro de Souza
·          Alcado Pedro, francês, confeiteiro;
Rua da Ponte
·        Francisco da Costa Medeiros, português, caixeiro;
·        Augusto Pires, francês, confeiteiro;
·        Roberto N Timent, inglês, negociante;
·        Eduardo Fernandes, inglês, negociante;
·        Augusto Lebreti, francês, negociante;
·        João Coelho da Silva, português, canteiro;
·        Antônio José da Silva, português, pedreiro;
·        Manuel Marques da Costa, português, padeiro;
Rua dos Quartéis
·          Domingos José Lopes, português, caixeiro;
·          João Vietmonthe (sic), inglês, engenheiro;
·          Joaquim Dias de Oliveira, português, caixeiro;
·          José Leite de Azevedo, português, carpinteiro;
·          Manuel Francisco, português, carpinteiro;
·          José da Silva Santos, português, carpinteiro;
·          Manuel Narciso Teixeira, português, pedreiro;
·          Júlio Coque [talvez Koch?], alemão, pedreiro;
·          Frederico Lemes, prussiano, compositor;
·          Alberto Pocorne, boêmio, negociante;
·          Cristiano Zolengo, anouvo (sic), caixeiro;
Rua da Praia
·          Januário Barbosa, da Colônia, mestre de escola;
·          Pedro Paulo, inglês, médico;
·          Rufino José Pinto, de Penafiel, negociante;
·          Alexandre Nelson, russo, ferreiro;
·          Antônio Gomes, português, carpinteiro;
·          Antônio de Souza Bastos, português, caixeiro;
·          Antônio Fernandes da Rocha, português, negociante;
·          João da Silva Valença, português, pedreiro;
·          José da Costa Cardoso, português, negociante;
·          Antônio de Souza, português, caixeiro;
·          Joaquim Fernandes de Souza, português, carpinteiro;
·          Vicente Lino de Joanas, de Montevidéu, alfaiate;
·          Manuel Moreira Vieira, português, caixeiro;
·          Antônio Tumpler, português, sapateiro;
·          José Francisco, português, carpinteiro;
·          Francisco Joaquim Machado, português, caixeiro;
·          José Manuel da Silva, português, de profissão ignorada;
·          Custódio José Rodrigues, português, caixeiro;
·          Antônio Alexandre, português, carpinteiro;
·          Bento José da Fonseca, português, caixeiro;
·          Henrique Ludeys, prussiano, caixeiro;
·          Jorge Elias Franchy, alemão, médico;
·          Luís Hercer, alemão, médico;
·          João Poppe Idemito (sic), alemão, profissão ignorada;
·          Antônio Martins de Castro, português, caixeiro;
·          Henrique Louze, austríaco, cocheiro;
·          João Selulim, alemão, alfaiate;
·          Frederico Fabrício, alemão, alfaiate;
·          Augusto Martel, francês, alfaiate;
·          Aier Hengre, inglês, negociante.
*** 
Ante a lista com 58 nomes, destacamos, inicialmente, a diversidade de “empregos”: dos caixeiros (14) aos médicos (3), ao agente consular, compositor, mestre de escola.  Esse fragmento bem localizado no tempo e no espaço dá-nos uma amostra da convivência entre etnias, assim como da efervescência “técnica” de seus representantes.
Outro enlace interessante que pode ser feito é a relação entre etnia e atividade profissional. Por exemplo: dos 3 médicos, 2 são alemães e um, inglês; dos 4 alfaiates, dois são alemães e dos outros, temos um uruguaio e  um francês.
Em 1820, estima-se que havia 12.000 habitantes em Porto Alegre, enquanto em 1848 já eram 16.900. Podemos inferir que mais de 12.000 habitantes viviam na cidade, a qual foi descrita pelo viajante Arsène Isabelle da seguinte forma: “há cinco igrejas, um hospital, uma casa de beneficência, uma arsenal, dois quarteis e uma prisão, recentemente construída”.
E ainda: 
Pode ter doze mil habitantes, e até quinze mil devido à população flutuante de estrangeiros, que vêm de toda parte, para ali comerciar temporariamente. Nestes dois últimos anos, sobretudo, ela começou a experimentar um crescimento rápido, que vai sempre aumentando. 
Arsène Isabelle chegou a Porto Alegre em 20 de março de 1834, época em que já se iniciara a iluminação pública (1832) e se começara a construção do Theatro São Pedro (1833). Era uma cidade “efervescente”.
Nossa Relação foi feita nesse contexto. Quando tratamos de listas que relacionam elementos específicos, nesse caso, com os estrangeiros e suas ocupações, entendemos que o objetivo era saber a sua existência e, consequentemente, “controlar” essa população.
Esperamos que mais esse fragmento da história possa ajudar a construir a trajetória de algum indivíduo.